domingo, 24 de junho de 2012

Obras do Romantismo em prosa


Amor de Perdição - Camilo Castelo Branco
Camilo Castelo Branco conquistou fama com a novela passional Amor de Perdição. Bem ao gosto romântico, a característica principal da novela passional é o seu tom trágico. As personagens estão sempre em luta contra terríveis obstáculos para alcançar a felicidade no amor. Normalmente, essa busca é frustrante. Mesmo quando os amantes ficam juntos, isso é conseguido a custa de muito sofrimento. Os direitos do coração, frequentemente, vão de encontro aos valores sociais e morais. Segundo o autor, Amor de Perdição foi escrito durante 15 dias, em 1861, quando ele estava preso na cadeia da Relação, na cidade do Porto, por ter-se envolvido em questões de adultério.

Como o drama de Romeu e Julieta, a obra focaliza dois apaixonados que têm como obstáculo para a realização amorosa a rivalidade entre as famílias. A ação se passa em Portugal, no século 19. O narrador diz contar fatos ocorridos com seu tio Simão. Residentes em Viseu, duas famílias nobres, os Albuquerques e os Botelhos, odeiam-se por causa de um litígio em que o corregedor Domingos Botelho deu ganho de causa contrário aos interesses dos primeiros. Simão é um dos cinco filhos do corregedor.

Devido ao seu temperamento explosivo, Simão envolve-se em confusões. Seu pai o manda estudar em Coimbra, mas ele se envolve em novas confusões e é preso. Liberto, volta para Viseu e se apaixona por Teresa Albuquerque, sua vizinha.

A partir daí, opera-se uma rápida transformação no rapaz. Simão se regenera, torna-se estudioso, passa a ter como valor maior o amor, e todos os seus princípios são dele decorrentes. Os pais descobrem o namoro.

O corregedor manda o filho para Coimbra. Para Teresa restam duas opções: casar-se com o primo Baltasar ou ir para o convento. Proibidos de se encontrar, os jovens trocam correspondência, ajudados por uma mendiga e por Mariana, filha do ferreiro João da Cruz. Mariana encarna o amor romântico abnegado.

Apaixona-se por Simão, embora saiba que esse amor jamais poderá ser correspondido, seja pelo fato de Teresa dominar o coração do rapaz seja pela diferença social: ela era de condição humilde, filha de um ferreiro. Mesmo assim, ama a ponto de encontrar felicidade na felicidade do amado.

Depois de ameaças e atentados, Teresa rejeita o casamento. Por isso será enviada para o convento de Monchique, no Porto. Simão resolve raptá-la, acaba por matar seu rival e se entrega à polícia. João da Cruz oferece-se para ajudá-lo a fugir, mas ele não aceita, pois é o típico herói romântico.

Matou por amor à Teresa, portanto assume seu ato e faz questão de pagar. Enquanto Simão vai para a cadeia, sua amada vai para o convento. Mariana, por sua vez, procura estar sempre ao lado de Simão, ajudando-o em todas as ocasiões. Condenado à forca, a sentença é comutada e Simão é degredado para a Índia.

Quando ele está partindo, Teresa, moribunda, pede que a coloquem no mirante do convento, para ver o navio que levará seu amado para longe. Após acenar dizendo adeus, morre. Seu amor exagerado a leva à perdição.

Durante a viagem, Mariana, que acompanha Simão, mostra-lhe a última carta de Teresa. Ele fica sabendo da sua morte, tem uma febre inexplicável e morre. Seu amor exagerado o leva à perdição. Na manhã seguinte, seu corpo é lançado ao mar. Mariana não suporta a perda e se joga ao mar, suicidando-se abraçada ao cadáver de Simão. Seu amor exagerado a leva à perdição.

Ficha
  Estilo: pertence à época romântica
  Gênero: novela passional
  Foco Narrativo: Embora na "Introdução" narrador e autor se confundam, os fatos são narrados em 3ª pessoa.
  Tempo e Espaço: Portugal (Viseu, Coimbra e Porto), século 19.
  Personagens: Simão Botelho, Teresa Albuquerque, Mariana, Baltasar, Domingos Botelho, Tadeu Albuquerque, João da Cruz, D. Rita Castelo Branco



Eurico, o presbítero – Alexandre herculano

O romance "Eurico, o Presbítero", conta a triste história de amor entre Hermengarda e Eurico. A história se passa no início do séc. VIII na Espanha Visigótica. Eurico e Teodomiro são amigos e lutam junto com Vitiza (imperador da Espanha) contra os "montanheses rebeldes e contra a francos, seus aliados".

Depois desse bem sucedido combate, Eurico pede ao Duque de Fávila a mão de sua filha, Hermengarda, em casamento. No entanto, Fávila ao saber da intenção de Eurico e, sabendo ainda que esse era um homem de origem humilde, recusa o pedido de Eurico. Certo de que sua amada também o repelia, o jovem entrega-se ao sacerdócio, sendo ordenado como o Presbítero de Cartéia.

A vida de Eurico então resume-se as suas funções religiosas e à composição de poemas e hinos religiosos, tarefas essas que ocupavam sua mente, afastando-se assim das lembranças de Hermengarda.

Essa rotina só é quebrada quando ele descobre que os árabes, liderados por Tarrique, invadem a Península Ibérica. Então Eurico toma para si a responsabilidade de combater o avanço árabe. Inicialmente, alerta seu amigo Teodomiro e, posteriormente, já diante da invasão, o Presbítero de Cartéia transforma-se no enigmático Cavaleiro Negro.

Eurico, ou melhor, o Cavaleiro Negro luta de maneira heróica para defender o solo espanhol. Devido a seu ímpeto, ganha a admiração dos Godos e lhes dá força para combater os invasores.

Quando o domínio da batalha parece inclinar-se para os Godos, Sisibuto e Ebas, os filhos
do Imperador Vitiza, traem o povo Godo com a intenção assumir o trono. Assim o domínio do combate volta a ser árabe. Logo em seguida Roderico, rei dos Godos, morre no campo de batalha e Teodomiro passa a liderar o povo.

Nesse meio tempo, os árabes atacam o Mosteiro da Virgem Dolosa e raptam Hermengarda. O Cavaleiro Negro e uns poucos guerreiros conseguem salvá-la quando o "amir" estava prestes a profaná-la.

Durante a fuga, Hermengarda, foi levada desmaiada às montanhas das Asturias, onde Pelágio, seu irmão, está refugiado. Nesse momento, essas montanhas são o único everdadeiro refúgio da independência Goda, uma vez que, depois de uma luta terrível contra os árabes, Teodomiro aceita as vantajosas condições de paz que lhe são propostas: os campos da Bética, que lhe pertenciam, continuariam em seu poder.

Em segurança, na gruta Covadonga, Hermengarda depara-se com Eurico e, enfim, pode declarar seu amor. No entanto, Eurico sabe que esse amor jamais poderá se concretizar, devido as suas convicções religiosas. Então Eurico revela a ela que o Presbítero de Cartéia e o Cavaleiro Negro são a mesma pessoa. Ao sabe disso, Hermengarda perde a razão e Eurico, convicto e ciente das suas obrigações religiosas, parte para um combate suicida contra os árabes.






Senhora – José de Alencar
A obra Senhora de José de Alencar é narrado em terceira pessoa, por um narrador onisciente que, através de antecipações do futuro e de retornos ao passado, a história é contada em quatro partes o Preço, Quitação, Posse e Resgate. O romance tem uma linguagem metafórica que se constrói sobre o conflito entre o amor e o dinheiro que acaba por revelar a filosofia do "Ter" no lugar o "Ser".

O romance se passa no século XIX que retrata a história de um amor entre Aurélia uma jovem bonita, inteligente, rica e muito romântica que se apaixona por Fernando Seixas um rapaz pobre, que trabalhava como jornalista, gastava tudo que ganhava para manter a elegância e a aparência social. Seixas e Aurélia iam se casar, mas o casamento não aconteceu, Fernando a trocou por outra moça por causa do dote de trinta conto de réis. Algum tempo depois de receber a herança Aurélia decide se casar e comprar um noivo, Seixas aceita o pedido mesmo sem saber quem era a noiva.

No momento de revelar-se a noiva Seixas fica surpreso por ser Aurélia. Ela deixa bem claro que queria vingança, humilhado Seixas meses depois consegue o dinheiro que precisava para desfazer o casamento, depois de separados Aurélia confessa o seu amor por Seixas e suplica pelo o amor dele e assim conseguindo conquistá-lo. Senhora é uma das obras mais famosas de José de Alencar, e um admirável romance onde o autor retrata a história de Aurélia Camargo, moça pobre, torna-se rica graças à herança do avô, recebida aos 18 anos, quando é apresentada a sociedade fluminense. Encanta a todos com sua esplendorosa beleza. Sua beleza desperta o interesse de muitos rapazes e sabendo, sagazmente, os riscos que corria, ela vive intensamente. Revolta-se, muitas vezes contra a sua riqueza por conhecer nela um dos motivos para os admiradores. O Sr. Lemos, tio materno e tutor de Aurélia, era convocado de vez em quando para resolver problemas de pequena importância. Certo dia, a jovem convoca seu tutor para apresentar-lhe um certo assunto, seu casamento. Cita o casamento de Adelaide, filha de Manuel Tavares do Amaral que a ofertou a um recém chegado ao Rio de Janeiro, sendo este, o seu escolhido. O escolhido é Fernando Rodrigues de Seixas, moço de vida média rico, mas em casa leva vida simples. Aurélia pede ao Sr. Lemos que a auxilie no desmanche deste compromisso de Adelaide, pois além do interesse em Seixas, ela pretende fazer com que Adelaide se case com seu verdadeiro amor, o Dr Torquato Ribeiro, que também era seu amigo desde a convivência com sua mãe. Aurélia pede ao tutor que dê 50 contos de rés retirados de sua herança como dote a Ribeiro. Ela pede também que procure seu pretendente escolhido e lhe ofereça 100 contos de rés de dote, o casamento com separação de bens e que de forma nenhuma quebre o segredo de seu nome. Inicialmente, Fernando Seixas não aceita a proposta, mas muda de idéia, pois precisa do dinheiro para dar um dote a uma de suas irmãs. Desde que recebe o adiantamento, Seixas é apresentado a sua futura noiva. Surpreende-se em ver que sua noiva é sua ex-namorada na época de adolescência e sente-se humilhado, mas o Sr Lemos diz que Aurélia não sabe do acordo. Depois do acontecido, oficializa-se o pedido de casamento. Toda a sociedade fica atônita ao saber que Aurélia iria se casar com um marido sem fortuna. Acontece uma cerimônia modesta com poucos convidados e com os noivos demonstrando toda a sua felicidade. Mas, quando ficam a sós, Aurélia mostra toda a sua crueldade demonstrando todo o desprezo que tinha e chegando a mencionar o acordo de 100 contos de rés. O autor tem uma perplexidade de no meio da história, retroceder ao passado de Aurélia, como num flashback ou até mesmo como histórias sobrepostas.  Aurélia tinha uma infância modesta em companhia de sua mãe que era sobrecarregada de tarefas e viúva. O irmão de Aurélia morre, e com isso sua mãe começa a se preocupar com seu futuro. O tio Lemos, mostra-se galanteador durante a infância de Aurélia. Mas a menina não aceita. Quem realmente ganha o coração da menina é Fernando Seixas. Seixas se constrangeu por namorar moça tão pobre. Aurélia chega a renegar outros pretendentes de posição melhor do que Seixas devido ao amor que sentia por ele, mas o rapaz prefere deixar Aurélia para o outro pretendente, o qual demonstra muito carinho pela moça. Mas sabendo da recusa dela, Seixas volta e a pede em casamento. Lemos interferi nos acontecimentos falando com o pai de Adelaide sobre as vantagens de prometer sua filha a um outro homem que não o seu amado Dr Torquato. Adelaide acaba gostando de Seixas e por isso o apresenta em casa, fazendo o rapaz calcular todas as vantagens que teria com este casamento, e não com Aurélia, uma moça pobre e sem berço.

Aurélia sabe que foi trocada por Adelaide através de uma carta anônima. Diante de tanta infelicidade, Aurélia só conseguiu mudar sua vida quando reencontra o avô e a partir do reconhecimento dele para com a nora e neta. O avô de Aurélia morre infelizmente, deixando toda a sua fortuna para ela. Seu tio Lemos fica como tutor, e nomeia D. Firmina como acompanhante para a menina. Na noite de núpcias, Aurélia confessa a Fernando toda mágoa e rancor guardado durante algum tempo. Passam a viver sobre aparências na sociedade, e o verdadeiro inferno sob quatro paredes. Seixas se sente humilhado pelas atitudes de Aurélia, mas por orgulho e amor permanece ao seu lado, submetendo-se aos seus caprichos. Depois de algum tempo Fernando descobre um valor que tem a receber, que juntando com algum que já possuía conseguiria devolver o dote a Aurélia e viver livre de tamanhas ofensas. Aproveitando a devolução do dinheiro Seixa conta à esposa o porque de ter aceitado a separação no passado. Aurélia extremamente transtornada declara seu amor e mostra que no mesmo dia que o humilhou na noite de núpcias, escreveu seu testamento onde deixava tudo o que tinha para seu tão amado marido. Naquele momento ela demonstra que abdicava de toda a fortuna para ficar ao lado de seu amado. Acontece um doce beijo e tudo que tinha sido um enorme engano, toma ares reais de grande amor.




A Moreninha – Joaquim Manoel de Macedo
- O Autor: Nasceu em Itaboraí [RJ], em 1820. Fez o curso de Medicina. Foi jornalista, professor secundário, dramaturgo e romancista, obtendo destaque literário com este último gênero. Morreu no Rio de Janeiro, em 1882.
II- Obra: O dia de Sant'Ana se aproxima e o estudante de medicina, Filipe, convida seus colegas: Leopoldo, Fabrício e Augusto para a comemoração na ilha, onde mora sua avó, D.Ana, de 60 anos. Os alegres estudantes aceitam o convite com entusiasmo, exceto Augusto. Filipe, para atraí-lo à ilha, faz referência ao baile de domingo, em que estarão presentes suas primas: a pálida, Joana, de 17 anos, Joaquina, loira de 16 e sua irmã, D.Carolina, uma moreninha de 15. Augusto acaba concordando, mas adverte sobre sua inconstância no amor, dizendo jamais se ocupar de uma mesma moça durante 15 dias. Os rapazes apostam que o amigo ficará apaixonado durante 15 dias por uma única mulher. Se isso ocorrer, terá de escrever um romance, caso contrário, Filipe o escreverá, narrando a inconstância. Antes da partida, Fabrício envia uma carta a Augusto, pedindo-lhe ajuda para se livrar da namorada, a prima feia e pálida de Filipe, Joana. Durante a estadia, Augusto deve persegui-la e, Fabrício, fingindo ciúmes, termina o romance. Ao se encontrarem na ilha, o colega nega o auxílio e, à hora do jantar, Fabrício torna pública a inconstância amorosa do amigo. Mais tarde, Augusto conta a D.Ana que seu coração já tem dono; uma menina que, por acaso, encontrou aos 13 anos, numa praia. Nesse dia, auxiliam a família de um pobre moribundo que lhes dá um breve como sinal de eterno amor; o da menina contém o camafeu de Augusto e o dele o botão de esmeralda da garota. O rapaz não a esquece e, como não sabe seu nome, passa a tratá-la por minha mulher. Enquanto narra a história, pressente que alguém o está escutando. Avista à distância a irmã de Filipe, um sucesso entre os rapazes, em especial, Fabrício, apaixonado pelos gestos e peraltices da doce Moreninha. Chegada a hora das despedidas, Augusto não consegue pensar em outra coisa senão em D.Carolina. Recorda-se da meiguice da menina, quando esta lavava os pés da escrava, que passou mal na ilha por ter bebido além da conta. Retorna no domingo, acertando novo encontro para o final da semana. A Moreninha corresponde a todos os galanteios, ansiando pela volta. Contudo o pai do rapaz, ao visitá-lo, resolve impedir o retorno à ilha; quer vê-lo estudando, trancado no quarto. Augusto fica tão abatido que, durante a semana, não consegue deixar o leito, sendo necessária a presença de um médico. Na ilha, a Moreninha, inconformada, se desespera até saber que o rapaz está doente. No domingo, coloca-se no rochedo, esperando o barco, enquanto canta a balada da índia Ahy sobre o amor da nativa pelo índio Aiotin. Na canção, a bela índia tamoia de 15 anos narra que o amado, vindo à ilha para caçar, jamais nota sua presença, mesmo quando lhe recolhe as aves abatidas ou refresca a fronte do guerreiro, adormecido na gruta. Tudo isso retira a alegria de viver da menina que, cansada de ser ignorada, chora sobre o rochedo, formando uma fonte. O índio, dormindo na gruta, acaba bebendo as lágrimas da jovem e passa, primeiro a percebê-la no rochedo, depois a ouvir seu canto e, finalmente, quando bebe da fonte, por ela se apaixona. Um velho frade português traduz a canção de Ahy para a nossa língua, compondo a balada que a Moreninha canta. De repente, Carolina localiza Augusto e o pai no barco que se aproxima da ilha. D.Ana convida-os para o almoço e a Moreninha, pedida em casamento, dá um prazo de meia hora para dar a resposta, indo para a gruta do jardim, onde há a fonte de Ahy. O rapaz pergunta se deseja consultar a fonte, mas D.Ana, certa da resposta, pergunta-lhe se não deseja, também, refletir no jardim e ele parte imediatamente.
Encontra a menina que, cruelmente, lhe recorda a promessa feita, na infância, junto ao leito do moribundo. Censura-o por faltar ao amor daquela a quem chama de sua mulher. Angustiado, o rapaz a contesta, afirmando se tratar de um juramento feito na infância e de desconhecer o paradeiro da menina. A Moreninha diz que incentivou seu amor por vaidade de moça e por saber de sua inconstância. Lutou para conquistá-lo e deseja saber, agora, quem ganhou, o homem ou a mulher. Augusto responde que a beleza. Carolina conta ter ouvido a história narrada a D.Ana e insiste no cumprimento da promessa.O rapaz desesperado, prefere fugir da ilha, abandonar a cidade e o país. Mesmo que encontrasse a menina, lhe pediria perdão por ter se apaixonado por outra. Repentinamente, arranca de debaixo da camisa o breve com a esmeralda para espanto da Moreninha. O casal chora pateticamente, Carolina pede a Augusto para procurar 'sua mulher' e lhe explicar o ocorrido e, só, então, retornar. Ele concorda, mas não sabe onde ela está. A Moreninha diz que, certa vez, também, ajudou a um moribundo e sua família, recebendo pelos préstimos um breve, contendo uma pedra que daria o que se deseja a quem o possuísse. Passa o breve ao rapaz, para ajudá-lo na busca, pedindo que o descosa e retire a relíquia. Rapidamente, ele o desfaz e dando com seu camafeu, atira-se aos pés da amada. D.Ana e o pai de Augusto entram na gruta, encontrando-o de joelhos, beijando os pés de Carolina, perguntam o que está ocorrendo.A menina responde que são velhos conhecidos, enquanto o moço repete que encontrou sua mulher. Filipe, Fabrício e Leopoldo retornam à ilha para as preparações do casamento e, recordando que um mês havia se passado, lembram a Augusto do romance e ele lhes responde já tê-lo escrito e que se intitula A Moreninha.
    
Escrava Isaura – Bernardo Guimarães

NTRODUÇÃO
Escrito em plena campanha abolicionista (1875), o livro conta as desventuras de Isaura, escrava branca e educada, de caráter nobre, vítima de um senhor devasso e cruel.
O romance A Escrava Isaura foi um grande sucesso editorial e permitiu que Bernardo Guimarães se tornasse um dos mais populares romancistas de sua época no Brasil. O autor pretende, nesta obra, fazer um libelo anti-escravagista e libertário e, talvez, por isso, o romance exceda em idealização romântica, a fim de conquistar a imaginação popular perante as situações intoleráveis do cativeiro.
O estudioso Manuel Cavalcanti Proença observa que: "Numa literatura não muito abundante em manifestação abolicionistas, é obra de muita importância, pelo modo sentimental como focalizou o problema, atingindo principalmente o público feminino, que encontrava na literatura de ficção derivativo e caminho de fuga, numa sociedade em que a mulher só saía à rua acompanhada e em dias pré-estabelecidos; o mais do tempo ficava retida em casa, sem trabalho obrigatório, bordando, cosendo e ouvindo e falando mexericos, isto é, enredos e intrigas, como se dizia no tempo e ainda se diz neste romance."
O ENREDO - A história se passa nos "primeiros anos do reinado de D. Pedro II", inicialmente em uma fazenda em Campos dos Goitacazes (RJ). Isaura, escrava branca e bem-educada, é assediada pelo seu senhor, Leôncio, recém-casado com Malvina. Isaura se recusa a ceder aos apelos de Leôncio, como já fizera, no passado, sua mãe, que, por ter repelido o pai de Leôncio, fora submetida a um tratamento tão cruel que, em pouco tempo, morrera.
Para forçá-la a ceder, Leôncio manda Isaura para a senzala, trabalhar com as outras escravas. Sempre resignada, suporta passivamente o seu destino, porém, não cede a Leôncio, afirmando que ele, como proprietário, era senhor de seu corpo, mas não de seu coração: " - Não, por certo, meu senhor; o coração é livre; ninguém pode escravizá-lo, nem o próprio dono." Leôncio, enfurecido, ameaça colocá-la no tronco.
No entanto, seu pai, ex-feitor da fazendo, consegue tirá-la de lá e foge com ela para Recife (PE). Em Recife, Isaura usa o nome de Elvira e vive reclusa numa pequena casa com seu pai. Então, conhece Álvaro, por quem se apaixona e é correspondida.
Vai a um baile com ele, onde é desmascarada e reconhecida. Álvaro, ainda que surpreso, não se importa com o fato de ela ser uma escrava e resolve impedir que Leôncio a leve de volta, inclusive tentando comprá-la. Mas não consegue convencer o vilão, e este leva Isaura de volta ao cativeiro na fazenda. Leôncio está praticamente falido e, com o objetivo de conseguir um empréstimo do pai de Malvina, consegue se reconciliar com a mulher, afirmando que Isaura é quem o assediava. Então, para punir Isaura, Leôncio manda que ela se case com Belchior, jardineiro da fazenda.
Entretanto, Álvaro descobre a falência de Leôncio e compra a dívida dos seus credores, tornando-se proprietário de todos os seus bens, inclusive de seus escravos. No dia do casamento de Isaura, antes que se celebrasse a cerimônia, Álvaro aparece e reclama seus direitos a Leôncio. Vendo-se derrotado e na miséria, Leôncio suicida-se. Tudo termina, portanto, com a punição dos culpados e o triunfo dos justos.
Como bem o sintetizou Carlos Alberto Vecchi: "A estrutura narrativa de A Escrava Isaura segue o modelo folhetinesco das histórias românticas: para atingir seu ideal e obter o reconhecimento de todos, o herói tem que realizar uma jornada perigosa, onde a própria vida é colocada em risco.
O Amor, epicentro onde se debatem o Bem e o Mal, torna-se a força motriz que conduz ao restabelecimento do equilíbrio e da felicidade a todos que, em momento algum, se deixaram intimidar pelos desmandos de Leôncio. O Mal extirpado (o suicídio de Leôncio) cede lugar ao Bem. E aqueles que nortearam suas ações pelas virtudes maiores é que estão aptos a receber o prêmio daí decorrente."
OS PERSONAGENS - A obra apresenta a tríade comum aos romances populares românticos: vilão, heroína e herói. E, graças à ausência de profundidade com que são construídos, os personagens do romance são planos, estáticos e superficiais. Isaura, a heroína escrava, é branca, pura, virginal, possui um caráter nobre e demonstra "conhecer o seu lugar": do princípio ao fim, suporta conformada a perseguição de Leôncio, as propostas de Henrique, as desconfianças de Malvina, sem jamais se revoltar. Permanece emocionalmente escrava, mesmo tendo sido educada como uma dama da sociedade. Tem escrúpulos de passar por branca livre, acha-se indigna do amor de Álvaro e termina como a própria imagem da "virtude recompensada".



Inocência – Visconde de Taunay

A Obra - Sertão de Santana do Paranaíba, 1860. Pereira ( Martinho dos Santos Pereira ) vive na fazenda com Inocência, sua filha de 18 anos. Seu pai exige-lhe obediência total, num regime antigo e educada longe do mundo. Escolhe para ela o noivo, Manecão, um homem criado no sertão bruto, de índole violenta.
Maria Conga é uma preta, escrava de Pereira. Tico é o guarda da moça Inocência, bastante fiel apesar de ser mudo. Um dia, Pereira encontrou-se com um rapaz que percorria os caminhos do sertão a medicar. Havia feitos estudos no colégio do Caraça e iniciado Farmácia em Ouro Preto. Chamavam-no de "doutor", título que não menosprezava. Seu nome era Cirino Ferreira dos Santos ( Dr. Cirino ).
Inocência estava doente de "uma febre braba" e o "doutor" curou-a . Os dois apaixonaram-se mais tarde: eram demasiados os cuidados que o "doutor" tinha para com ela. Amavam-se às escondidas e o laranjal era local de encontros proibidos. Pensavam que ninguém poderiam desconfiar... mas Tico, o anãozinho mudo, estava atento... Nesse ínterim, Pereira andava é desconfiado do Dr. Meyer, um caçador de borboletas, que por lá aparecera!
Desconfiava a tal ponto que o ilustre entomólogo passou a ser "persona non grata". Dr. Meyer tinha por objetivo descobrir espécimes novos para museus europeus. Respeitava com muito carinho e muita atenção a bonita Inocência. José Pinho (Juque), ajudante de Dr. Meyer, explicava a função de seu patrão: procurar insetos. E isso durante quase dois anos...Garcia, leproso, aparece na fazenda do Sr. Pereira. Quer falar com Dr. Cirino. O "médico" diz-lhe que a doença e incurável e  contagiosa. Inocência foi maltratada pelo pai, quando este soube de seu amor com o doutor. Foi atirada contra a parede. Resistiu e jurou não se casar com Manecão, o sertanejo violento. Mas o pai – Sr. Pereira – achou que a filha estava de "mau olhado", por causa do Dr. Meyer.
E encontrou uma solução: ele ou Manecão mataria o intruso alemão. Dr. Meyer não deu ouvidos a Pereira, zombado de sua ameaça. Tomou-se de vergonha: era ofensa demais. Tico, após testemunhar o amor existente entre Inocência e Cirino, explicou ao Sr. Pereira tudo que se passava...Manecão começou a seguir os passos de Cirino. Até um dia interpelou-o . Tirou uma garrucha da cintura e... Cirino caiu por terra, pedindo água e sussurrando o nome de Inocência. Agonizante, exigia do mineiro Antônio Cesário que não deixasse Inocência casar-se com Manecão... Dr. Guilherme Tembel Meyer, em 1863, apresentava aos entomólogos do mundo a sua mais recente descoberta: uma borboleta até então desconhecida: "Papilio Innocentia:" em homenagem à Inocência, a moça do sertão de Santana do Paranaíba, da Parte sul oriental do Mato Grosso. Inocência, coitadinha...  Exatamente nesse dia dois anos faria que seu gentil corpo fora entregue à terra, no intenso sertão de Santana do Parnaíba, para dormir o sono da eternidade...

CARACTERIZAÇÃO DOS PERSONAGENS: Martinho dos Santos Pereira (Pereira) – Homem de mais ou menos 45 anos, gordo, bem disposto, cabelos brancos, rosto expressivo e franco. Pessoa honesta, hospitaleiro, severo e não trocava a sua palavra nem pela vida.
Inocência – Cabelos longos e pretos, nariz fino, olhos matadores, beleza deslumbrante e incomparável, faces mimosas, cílios sedosos, boca pequena e queixo admiravelmente torneado. Enfim, uma jovem de beleza deslumbrante e incomparável.Simples, humilde, meiga, carinhosa, indefesa e eternamente apaixonada.
Tico – O anão guardião de Inocência. Mudo, raquítico, esperto e fez por um momento, o papel de fofoqueiro.
Maria Conga – Escrava de Pereira que cuidava dos afazeres domésticos. Escura, idosa e malvestida. Usava na cabeça um pano branco de algodão.
Major Martinho de Melo Taques – Homem que merecia influência na vila de Santana do Parnaíba: Juiz de paz e servia de juiz municipal. Participou da Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul. Era comerciante e gostava de contar casos, ou seja, "prosear".
Manecão – alto, forte, pançudo e usava bigode. Enfim, vaqueiro bruto do sertão. Pessoa fria que matava, se fosse preciso, em defesa de sua honra.
Antônio Cesário – Padrinho de Inocência. Homem respeitado, de palavra, honesto e justo. Fazendeiro do sertão.
Guilherme Tembel Meyer – alto, rosto redondo, juvenil, olhos claros, nariz pequeno e arrebitado, barbas compridas, escorrido bigode e cabelos muito louros. Pessoa de boa ídolo, esperto em sua função e simples ao pronunciar as sua palavras. Admirador da natureza e da beleza de Inocência.
José Pinho (Juque) – Ajudante de Meyer. Era muito intrometido em conversas alheias. Pessoa boa e de confiança de seu patrão.
Cirino Ferreira Campos – Tinha mais ou menos 25 anos, presença agradável, olhos negros e bem rasgados, barbas e cabelos cortados quase à escovinha. Era tão inteligente quanto decidido. "Doutor" Cirino era caridoso, bom doava a própria vida em defesa do amor.
COMPONENTES DA OBRA:
O romance relata a vida do povo do sertão brasileiro. O autor nos mostra de forma nem clara, a simplicidade, o sofrimento e o jeito típico do sertanejo, através de seus personagens.
Sofrimento – A caminhada do sertanejo em busca de seus objetivos através de longas distâncias, sendo que no percurso, existe a dificuldade do abrigo.
Simplicidade – É claramente observada através do comportamento e diálogos entre as personagens típicas.
Contradições – Comprava-se entre o jeito de ser do sertão e a forma avançada da Europa (Pereira e Meyer).
Amor – Um amor tão puro e verdadeiro que por falta de condições de existência preferiu a morte, ou pelo menos, foram levados a ela.
Honra – Pereira para manter a honra familiar, sacrificava sua própria filha, já que sua palavra estava acima de tudo.
Beleza – É retratada através da paisagem do sertão e da jovem Inocência.
Escravidão – ë representada por Maria Conga e outros.

MOMENTO LITERÁRIO
Inocência pode ser considerada a obra prima do romance regionalista (Sertão do Mato Grosso) do nosso Romantismo. Seu autor, Visconde de Taunay, soube unir ao seu conhecimento prático do país, adquirindo em inúmeras viagens na condição de militar, o seu agudo senso de observação da natureza e da vida social do Sertão brasileiro.
A qualidade de Inocência resulta do equilíbrio alcançado entre os aspectos ligados ao conceito de verossimilhança – que muitas vezes chegava a comprometer a qualidade de obras regionalistas –, como a tensão entre ficção e realidade, a linguagem culta e a linguagem regional e a adequação dos valores românticos à realidade bruta do nosso Sertão.
Inocência é uma história de amor impossível, envolvendo Cirino, prático de Farmácia que se autopromoveu médico, e Inocência, uma jovem do Sertão de Mato Grosso, filha de Pereira, pequeno proprietário típico da mentalidade vigente entre os habitantes daquela região.
A realização amorosa entre os jovens é invisível porque Inocência fora prometida em casamento pelo pai de Manecão, um rústico vaqueiro da região; e também porque Pereira exerce for vigilância sobre a filha, pois, de acordo com seus valores, ele tem de garantir a integridade de Inocência até o dia do casamento.
Ao lado dos acontecimentos, que constituem a trama amorosa, há também o choque de valores entre Pereira e Meyer, um naturalista alemão que se hospedara na casa de Pereira à procura de borboletas, evidenciando as contradições entre o meio rural brasileiro e o meio urbano europeu.
A atração pelo pitoresco e o desejo de explorar e investigar o Brasil do interior fizeram o autor romântico se interessar pela vida e hábitos das populações que viviam destante das cidades. Abria-se assim, para o Romantismo, o campo fecundo do romance sertanejo, que até hoje continua a fornecer matéria à nossa literatura.

MOMENTO HISTÓRICO
Na época em que o autor se inspirava para escrever Inocência, acontecia no país a aprovação da Lei do Ventre Livre, onde todos os filhos de negros que nascessem à partir daquela data seria livre da escravidão brasileira.







 Memórias de um Sargento de Milícias [Manoel Antônio de Almeida]

Enredo
Leonardo, o futuro sargento de milícias, filho de Leonardo-Pataca e de Maria-da-Hortaliça, é o resultado das pisadelas, beliscões e outros atos similares praticados pelo casal de imigrantes portugueses durante a travessia do Atlântico rumo ao Rio de Janeiro.
Maria-da-Hortaliça sente enjoos logo ao desembarcar e sete meses depois nasce um robusto menino, batizado com o nome do pai. A parteira - a comadre - e o barbeiro - 'de defronte' foram os padrinhos do herói, que passa junto aos pais os primeiros anos da infância. Leonardo-Pataca, que se tornara meirinho, confirma certo dia as suspeitas de que sua mulher não mantinha a mesma fidelidade que durante a viagem. Em consequência, briga com ela, expulsa de casa o garoto com um enérgico pontapé e sai em busca de consolo. Ao retornar à tarde, em companhia do compadre e padrinho do menino, é informado de que Maria-da-Hortaliça, saudosa da pátria, tinha fugido e embarcado novamente, rumo a Portugal, a convite do capitão de um navio que partira pouco antes. Logo a seguir, Leonardo-Pataca vai viver com uma cigana, que, por sua vez, também o abandona.
Enquanto isso, Leonardo, o filho, adotado pelo padrinho, que muito se afeiçoara a ele, vai crescendo e a cada dia se revela mais briguento e travesso, prenunciando futuros envolvimentos com o famoso major Vidigal, que era o terror de todos os malandros e baderneiros da época.
O padrinho, com infinita paciência, tenta encaminhar o menino na prática da religião para qual este não revela grandes pendores. Coloca-o na escola e o ensina a ajudar a missa. Se na escola se revela um péssimo aluno e colega, na Igreja da Sé, onde consegue ser sacristão, vê a melhor oportunidade para grandes travessuras, como o experimenta o mestre-de-cerimônias. Este, um padre de meia idade, virtuoso por fora, mas bastante diferente por dentro, envolve-se com uma cigana, a mesma, aliás, com quem Leonardo-Pataca vivera depois da fuga de Maria-da-Hortaliça. O sacristão se vinga das reprimendas que sofre por suas constantes travessuras levando os fiéis a tomarem conhecimento dos fatos, o que faz com que seja expulso e deixe a igreja da Sé.
Para desgosto do padrinho e da madrinha, que queriam encaminhá-lo em uma profissão, Leonardo não demonstra qualquer interesse. Prefere a vida livre da vadiagem e das brincadeiras. Certo dia, em casa de Dona Maria, uma mulher das vizinhanças, conhece a sobrinha desta, Luisinha, sua futura mulher. Até que o casamento se realizasse, porém, muita coisa, iria acontecer. Leonardo-Pataca, depois de vencer o mestre-de-cerimônias na disputa pela cigana, é abandonado novamente por esta e passa a viver com a filha da parteira, Chiquinha. Daí nasce uma filha e grandes confusões, pois Chiquinha e Leonardo se detestavam e a parteira é chamada continuamente para serenar os ânimos. Por esta época aparece em cena José Manuel, um rival do futuro sargento de milícias em seu amor por Luisinha. Apesar dos esforços da comadre para afastá-lo do caminho, ela não tem sucesso. Além disso, a morte do padrinho e as contínuas brigas com Chiquinha fazem com que Leonardo saia de casa e passe a vagabundear pelos subúrbios da cidade, quando conhece Vidinha, uma mulata sensual, de olhos pretos e lábios úmidos, pela qual se apaixona imediatamente. Como Vidinha tinha outros pretendentes, cria-se grande confusão, o onipresente major Vidigal intervém e Leonardo consegue fugir, deixando-o furioso. Mas a vida continua e, com proteção da comadre, o Leonardo entra para as hostes do major Vidigal, não revelando, naturalmente, grande amor por esta nova profissão e passando boa parte de seu tempo na prisão por indisciplina. Sempre com a proteção da comadre, que recorre à ajuda de Maria Regalada, um antigo amor de Vigida, Leonardo supera todas as adversidades, chegando ao posto de sargento de milícias. Assim, o final feliz se aproximava. José Manuel, o rival de Leonardo no amor por Luisinha, revela-se péssimo marido e, além do mais, morre providencialmente, deixando-a viúva e livre para casar com o sargento de milícias. Passando o tempo indispensável do luto, Leonardo, em uniforme da tropa, recebe Luisinha como mulher, na mesma igreja da Sé que fora palco de suas grandes travessuras como sacristão.

Personagens principais

Leonardo - De menino traquinas, sempre pronto para fazer travessuras e vingar-se de quem não o suportava, passa a sargento de milícias, posto de grande responsabilidade, o que caracteriza a trajetória desordenada e contraditória de um personagem que não controla o meio em que se envolve e vai, pelo contrário, deixando-se levar por ele. Leonardo é, indiscutivelmente, a figura central do enredo, apesar de muitas vezes ser ofuscado pela ação de outros personagens.

Leonardo-Pataca - Tendo conseguido chegar a meirinho, o que lhe garante uma vida de ócio, Leonardo-Pataca é apresentado como o infeliz que é perseguido sempre pela má sorte na vida pessoal, má sorte que, na verdade, é resultado da pouca inteligência e do excesso de sentimentalismo amoroso. Mas a velhice o acalma e, afinal, encontra a paz ao lado de Chiquinha.

A comadre - Como parteira, a comadre faz uso da influência e das informações que obtém no exercício de sua profissão para organizar o mundo segundo interesses. Nem sempre é bem-sucedida, mas a sorte a favorece e consegue ver o afilhado bem casado e na posição de sargento de milícias.

O compadre - De bom coração, apesar do famoso arranjei-me, o compadre, o compadre afeiçoa-se a Leonardo, no qual parece identificar-se, pois também fora um menino abandonado que tivera que enfrentar a vida sozinho. Não vive o suficiente para ver o final feliz do afilhado.

Vidigal - O terror dos malandros e vagabundos, 'o rei absoluto, o árbitro supremo' e o distribuidor dos castigos em uma sociedade em que a polícia ainda não estava organizada, o major é visto de forma simpática, principalmente porque termina sendo uma peça fundamental para que o destino de Leonardo, o herói central, se encerre de forma favorável.

Vidinha - A 'mulatinha de 18 a 20 anos...de lábios grossos e úmidos' é o primeiro personagem da ficção brasileira que aparece o estereótipo da mulata sensual que enlouquece os homens com sua vida e sem compromissos.

 

Estrutura narrativa

Memórias de um sargento de milícias, a história do filho 'da pisadela e de um beliscão', é narrado em 48 capítulos por um narrador onisciente que orienta a leitura ao longo de toda a obra apontando e comentado as intrigas, os sucessos e os fracassos dos personagens. Se a estrutura narrativa é frágil e pouco organizada, dados os constantes saltos no tempo e no espaço, os comentários do narrador, ora humorísticos, ora irônicos, lhe dão inegável unidade, em que pesem alguns lapsos, como é o caso do personagem Chiquinha, apresentada às vezes como sobrinha e às vezes como filha da comadre. Toda a ação do romance se desenvolve no Rio de Janeiro, 'no tempo do rei', isto é, entre 1808 e 1821.

Estilo de época

Apesar de estar classificado como romântico, o romance Memórias de um sargento de milícias apresenta traços estéticos que ultrapassam o Romantismo. Sua composição não segue a trilha deixada pelos demais ficcionistas desse estilo. A fragmentação do enredo deixa margens de dúvida se não seria um precursor do estilo digressivo e fragmentário de Machado de Assis. Suas personagens passam longe das idealizações românticas, então mais próximas do Realismo, não raro configurando tipos. A ausência de um final feliz definitivo é outro elemento fora dos parâmetros românticos. Dentro dos romances românticos, não se direciona especificamente para os romances urbanos, que focalizam a sociedade burguesa, pois caracteriza a sociedade suburbana, a gente humilde e trabalhadora.
Sem dúvida, a situação é controversa. Devemos enxergar a presente obra como um romance de costumes, que apresenta também tendência à novela picaresca, pela presença do anti-herói Leonardinho.
Cabe ressaltar que alguns críticos enxergam na obra uma percursora do Realismo no Brasil. Há, sem dúvida, elementos realistas, mas ainda predominam componentes românticos, já que não mostra nítida intenção realista. Os elementos considerados realistas presentes nessa obra filiam-se à narrativa picaresca espanhola, que tem por preocupação retratar naturalmente os costumes populares sem idealizá-los.

Problemática e principais temas

Podemos destacar entre as temáticas fundamentais as críticas ao autoritarismo policial, à religião, ao clero imoral, ao interesse econômico, ao casamento como meio de ascensão social e à vadiagem como meio de vida. Há, ainda, uma espécie de paródia do próprio Romantismo, montado nessa obra às avessas, abandonando os adocicados finais felizes para deixar nas entrelinhas uma sucessão de fatos tristes que poderiam vir a acontecer




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