domingo, 20 de setembro de 2015

UNIFICADA - 2º D, E - Literatura - 3º Bimestre

Conteúdo:Realismo/Naturalismo no Brasil, O Mulato, Dom Casmurro.


Realismo/Naturalismo no Brasil (1881/1893)

O Realismo/Naturalismo brasileiro apresenta basicamente as mesmas características da literatura europeia da época, com algumas variações locais.
Iniciou-se no Brasil com a publicação do romance O mulato, de Aluísio Azevedo,e do romance realista Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, ambos publicados em 1881. São romances urbanos, ou seja, que têm como cenário a cidade grande. Segue também a tendência regionalista já estudada no romantismo, mas sem a idealização dos personagens, ao contrário com uma dose marcante de objetividade. Destacam-se na tendência regionalista os ficcionistas Domingos Olímpio e Manuel de Oliveira Paiva.
Merece destaque ainda a prosa de Raul Pompéia, escritor que ficou famoso por um único romance – O Ateneu – e cujo estilo é chamado de impressionista. Essa classificação deve-se ao fato de a narrativa construir-se de uma sequência de impressões e recordações do narrador, com um aprofundamento psicológico eu fugia à objetividade procurada pela literatura da época. Este romance foi publicado em 1888, já esboça uma reação ao Naturalismo.
Importante: As características do Realismo estão intimamente ligadas ao momento histórico, refletindo as idéias do Positivismo, do Socialismo e do Evolucionismo. Manifesta o objetivismo, como uma negação do subjetivismo romântico; o personalismo cede terreno ao universalismo; o materialismo leva a negação do sentimentalismo.O Realismo preocupa-se com o presente, o contemporâneo (a volta ao passado histórico do Romantismo é posta de lado). Os autores do Realismo são adeptos do determinismo, pelo qual a obra de arte seria determinada por três fatores: o meio; o momento; e a raça (esta dizendo respeito à hereditariedade). O avanço das ciências, no século XIX, tem grande influência, principalmente sobre os naturalistas (daí falar-se em cientificismo nas obras desse período). Ideologicamente, os autores desse período são antimonárquicos (defendem o ideal republicano); negam a burguesia (a partir da célula-mãe da sociedade, daí a presença constante dos triângulos amorosos - o pai traído, a mãe adúltera e o amante, este sempre um "amigo da casa"); são anticlericais (destacam-se os padres corruptos e beatas hipócritas).

Principais Autores e Obras
Machado de Assis (1839/1908)
Nasceu no morro do Livramento no Rio de Janeiro

Obras

Poesia – Crisálidas (1864)/ Falenas(1870)/ Americanas(1875)

Prosa:
Contos – Contos fluminenses(1870)/ Histórias da meia-noite(1873)/ Papéis avulsos(1882)/Histórias sem datas(1884)/ Relíquias da casa velha(1906)
Romances – conforme a crítica já consagrou, distinguem-se duas fases nos romances de Machado.
1ª fase- romances românticos: Ressurreição(1872)/A mão e a Luva(1874)/ Helena(1876)/ Iaiá Garcia(1878)
2ª fase – romances realistas: Memórias Póstumas de Brás Cubas(1881)/ Quincas Borba(1891)/ Dom Casmurro(1889)/Esaú e Jacó(1904)/ Memorial de Aires(1908)
Escreveu ainda peças de Teatro.

Características gerais da obra machadiana

Personagens – busca inspiração nas ações rotineiras do homem. Penetra na consciência das personagens para sondar-lhes o funcionamento, mostra-nos, de maneira impiedosa e aguda, a vaidade, a futilidade, a hipocrisia, a ambição, a inveja, a inclinação ao adultério.Escolhe suas personagens entre a burguesia que vive de acordo com o convencionalismo da época, Machado desmascara o jogo das relações sociais, enfatizando o contraste entre essência(o que as personagens são) e aparência (o que as personagens demonstram ser). O sucesso financeiro e social é, quase sempre, o objetivo último dessas personagens.

Processo narrativo- preocupa-se mais com a análise da personagens do que com a ação. Por isso, em sua narrativas pouca coisa acontece: há poucos fatos em suas histórias, e todos são ligados entre si por reflexões profundas. Há conversa com o leitor e a análise que o autor faz da própria narrativa.

Visão do mundo – humor –vida criticar o ser humanoe suas fraquezas, ora demonstra compaixão pelo homem. No primeiro caso o humor revela-se através da ironia; no segundo, faz o leitor refletir sobre a condição humana. Pessimismo - o homem deforma-se por causa de um sitema social que o leva a tornar-se hipócrita para ser aceito pela opinião pública. Compara a vida com uma peça de teatro onde todos estamos representanto um papel.O tédio e a dor são grandes inimigos da felicidade. Todo ser humano tem que viver uma vida que não escolheu e cujo destino lhe escapa. As causas nobres sempre ocultam interesses impuros.
Seu pessismo, no entanto, não é angustiado nem desesperador. Tende para a ironia e propõe a aceitação do prazer relativo que a vida pode oferecer, já eu a felicidade absoluta e inatingível.
Visão da Natureza como mãe e inimiga – a natureza considerada aqui todas as forças que estabelecem e conservam a ordem do universo é ao mesmo tempo mãe e inimiga do homem. Mãe porque criou o ser huamno; inimiga porque mantém-se impassível diante do sofrimento, que só terá fim com a morte. Teoria do Humanitismo – trata-se de uma teoria formulada pela personagem Quincas Borba, que aparece em dois romances de Machado.


Aluísio Azevedo(1857/1913) Nasceu em São Luís, Capital do Maranhão.

Obra

Romances românticos – Uma lágrima de mulher(1879)/ Memórias de um condenado(ou A condessa de Vésper)(1882)/ Mistério da Tijuca(ou Girândola de Amores)(1882)/ Filomena Borges(1884)/ A mortalha de Alzira(1894)

Romances naturalista – O Mulato (1881)/ Casa de pensão(1884)/ O homem(1877)/ O cortiço(1890)/ O coruja(1890)
Aluísio Azevedo pretendeu interpretar a realidade de uma camada social marginalizada, em franco processo de degradação, quer pela força da pressão social, quer pelo determinismo – teoria que o autor considera válida.

Raul Pompéia (1863/1895) – Nasceu em Angra dos Reis .Suicidou-se na noite de natal de 1895.

Obra
Prosa – O Ateneu(1888) romance – Canções sem metro(1900) crônicas, poemas em prosa, divagações poéticas.


Dom Casmurro

O autor Machado de Assis, conta a vida de um garoto no final do Século Passado, brilhantemente narrado em 1ª pessoa, deixando a dúvida se estes acontecimentos aconteceram ou não na vida do autor.


Resumo do livro:
No começo ele conta porque foi apelidado de Dom Casmurro, o (Casmurro) é porque o povo achava ele um homem calado e metido consigo. E (DOM) veio por ironia para atribuir-lhe o brilho da nobreza.
O pai dele estava numa antiga fazenda em Itaguaí e o Bentinho (Dom Casmurro) onde acabava de nascer, quando o seu pai estava mal de saúde e na obra do acaso apareceu um médico homeopata chamado José Dias e o curou e não quis receber remuneração e então o pai de Bentinho propôs que José Dias ficasse ali vivendo com eles, com um pequeno ordenado. Ele foi embora mas dizendo que voltava dali à alguns meses, voltou em 2 semanas e aceitou viver na casa tendo a serventia de médico da casa. O pai dele foi eleito deputado e foram para o Rio de Janeiro com a família, José Dias veio também tendo o seu quarto no fundo da chácara.
Seu pai voltou a ficar doente com uma febre alta, nisso José Dias confessou-se que não era médico, mas a medicina homeopata o agradava e era um ciência em crescimento. Seu pai logo depois acabou morrendo. Mesmo assim a mãe de Bentinho pediu para José Dias que ficasse. Sua Mãe que se chamava.
Daí conta a história que depois de perder seu primeiro filho Dona Glória fez uma promessa que se o nascesse um filho, ela faria um padre em agradecimento à Deus.
Capitu, que era sua vizinha, e bentinho, ainda novos brincavam de fazer missa dividindo a hóstia, etc. Ele começou a gostar de Capitu sem ela saber. Ele descobriu que ela também gostava dele quando leu no muro o nome “Bento e Capitolina” rabiscados com um prego.
Bentinho por varias razões prometia que ia rezar mil Padre-Nossos e mil Ave-Marias como promessa. E os desejos se realizavam e as promessa se acumulavam, não cumprindo nenhumas.
Ele faz tudo o que a mãe, até cocheiro de ônibus ele seria, menos padre mesmo sendo uma carreira bonita não era para ele essa vocação.
Bentinho começou a se encontrar nas escondidas com Capitu correndo até o perigo de serem vistos juntos se beijando.
Sua mãe já estava decidia que Bentinho iria entrar no seminário com o padre Cabral e que ele iria ver a família aos sábados e aos feriados. Então estava decidido ele iria para o seminário no primeiro ou no segundo mês do ano que vem, que só faltava 3 meses para ir para o seminário. Capitu ficou triste de saber que ele iria e ficou com medo que acaba-se o amor entre eles. Ainda faltava um tempo, para ele se despedir para ir embora e eles já faziam juramento um para o outro que quando ele voltar iriam se casar e por qualquer motivo de doença ou alguma coisa desse tipo ele voltaria a qualquer hora.
Bentinho tentou junto com Capitu varias idéias mirabolantes para fugir do seminário até pedir ao Imperador para falar para a mãe dele esquecer da Ideia. Mas nunca deu certo. Falou com José Dias para convencer sua mãe, de poucos em poucos. Isso alegrou José Dias que viajaria com Bentinho para a Europa para estudar nas melhores escolas do mundo. Mas foi tudo em vão, ele teve que ir logo para o seminário.
Meses depois foi para o seminário de S. José. O padre Cabral falou que se dentro de dois anos ele não tiver vocação para isso poderá escolher outra coisa.
Todo mundo que estava de acordo com que ele fosse para o seminário agradeceu ao padre em ter convencido Bentinho, e que qualquer problema estava a disposição. Bentinho foi para o seminário mas com ressentimento de arrependimento. Ele só estava pensando em sair de lá. Mas se passou alguns meses e ele queria que escapar de lá antes de completar o prazo do Padre Cabral. Estava louco para ir para casa até que arranjou um sábado que desse para ele ir até casa.
Capitu estava mesmo apaixonada por Bentinho e seus planos era esperar ele sair do seminário para se casar. Bentinho estava preocupado porque foram buscar ele no seminário e ele logo pensou que seria alguma coisa de ruim e não deu outra sua mãe ficou doente estava por um fio entre a vida e a morte, e para Bentinho isso era péssimo porque era sua mãe, mas por outro lado era bom que com a morte da mãe ele sairia do seminário, mas iria ficar cheio de remorso. Mas até ai correu tudo bem sua mãe acabou melhorando.
Bentinho conheceu Escobar, um amigo que encontrou no seminário e era o único que ele podia contar seus segredos, fora Capitu que estava apaixonada por ele mas estava longe dele.
Bentinho não aguentava mais ficar no seminário ele teria que sair dali de qualquer jeito estava lhe tornando impossível ficar só pensando em Capitu e as coisas que pudera fazer lá fora.
Bentinho foi para casa e perguntou aonde que estava Capitu e sua mãe falou que ela tinha ido dormir na casa de Sinhazinha Sancha Gurgel que é sua amiga e mora na rua dos Inválidos. A Prima Justina insinuou que ela foi para lá para namorar, deixando Bentinho louco de ciúme. Viu que Capitu estava demorando Bentinho esperou dar onze horas e correu para à rua dos Inválidos. Lá quando chegou viu o velho Gurgel preocupado com o estado de saúde de sua filha Sancha. Entrando viu Capitu cuidando da febre de Sancha. O velho Gurgel até comentou como Capitu parecia com sua falecida mulher e como ela ainda seria uma boa mãe. Vendo que Capitu não estava flertando com outros garotos, Bentinho ficou mais sossegado.
Assim foi passando o tempo, com intermináveis semanas no seminário e com fins-de-semana de descanso em casa. Escobar foi até a casa de Bentinho algumas vezes.
Teve uma hora que Bentinho não aguentou conversou com Capitu sobre fugir do seminário. Com idéias de mandar José Dias até o papa para cancelar a promessa. Mas Capitu acabou com essa ideia. E mandou pensar bem antes de cometer qualquer loucura.
Então Bentinho foi pedir a opinião de Escobar sobre a ideia do papa. Então Escobar teve a grande idéia que conseguiu tirar Bentinho do seminário. A Ideia que Escobar teve foi levar a promessa ao pé da letra “Se Tiver um filho, farei um padre”, na promessa diz que “fará um padre”, não especificando que seria seu filho.
Esse argumento serviu para Dona Glória, que pegou um órfão para ordena-lo padre. Assim depois de um tempo ambos saíram do seminário.
O livro pula a época que não houve nada de importante e vai para logo depois quando houve o casamento de Bentinho + Capitu e Escobar + Sancha Gurgel.
O tempo passou todos relativamente felizes, Bentinho se formou em Direito e Escobar estava no ramo do comércio. Tempo depois Escobar teve uma filha que chamou de Capitu.
Depois de muitas tentativas falhadas, Capitu e Bentinho, não conseguiram ter um filho. Capitu até chamou Escobar para acertar as contas para que se logo tivessem o filho já teriam tudo pronto.
Meses depois conseguiram finalmente ter um filho que respectivamente o chamaram de Ezequiel que era o primeiro nome de Escobar, como se fosse uma homenagem trocada. Depois disso com laço de união das famílias, até planejavam uma viajem para a Europa, com as duas famílias.
Mas no dia seguinte em una trágica manhã, Bentinho sentou-se na sua sala para estudar os processos que usaria no seu trabalho notou a fotografia de Escobar que tinha em casa e notou um estranha semelhança entre Escobar e seu filho, mas foi interrompido quando um escravo bateu na porta e que deu a notícia que Escobar teria morrido afogado na praia. Assim Bentinho esqueceu sua desconfiança e foi ver o corpo na praia.
Logo ocorreu o enterro, Bentinho fez até um discurso sobre o morto tão bom que queriam publica-lo. Mas sua dúvida continuava sobre a semelhança entre o falecido e seu filho.
O tempo passou e sua desconfiança foi aumentando. Depois de fazer alguns cálculos de tempo, teve quase certeza daqueles encontros de Escobar e Capitu quando eles tinham que fazer aquelas contas. E também porque as semelhanças também estavam aumentando.
O sentimento de Traição era horrível e Bentinho até tentou se suicidar, mas notou que apesar de Ezequiel poderia se um filho bastardo, lembrou que havia ainda o sentimento amoroso entre pai e filho. Isso fez Bentinho esquecer da tentativa de suicídio e partir para uma separação amigável com Capitu.
Viajou com sua família para a Suíça, voltando depois, deixando os lá para que o filho tivesse boa educação. Assim depois de um bom tempo Capitu lá morreu e Ezequiel voltou para contar as novidades para o pai.
Assim Ezequiel voltou já grande e formado em arqueologia, agora idêntico a Escobar. Contou que sua mãe foi enterrada na Suíça e que ele já estava de partida para o Oriente Médio para fazer um estudo sobre as pirâmides.
Algum tempo depois recebeu a notícia que Ezequiel morrera lá de febre tifoide e foi enterrado em terreno sagrado.
Acabando aí, o autor enfatiza a ideia que seu conto não passo de uma História de Subúrbio. Coisas que acontecem todo dia, que faz parte do cotidiano da humanidade.

O Mulato

Saindo criança de São Luís para Lisboa, Raimundo viajava órfão de pai, um ex-comerciante português, e afastado da mãe, Domingas, uma ex-escrava do pai.
Depois de anos na Europa, Raimundo volta formado para o Brasil. Passa um ano no Rio e decide regressar a São Luís para rever seu tutor e tio, Manuel Pescada.
Bem recebido pela família do tio, Raimundo desperta logo as atenções de sua prima Ana Rosa que, em dado momento, lhe declara seu amor.
Essa paixão correspondida encontra, todavia, três obstáculos: o do pai, que queria a filha casada com um dos caixeiros da loja; o da avó Maria Bárbara, mulher racista e de maus bofes; o do Cônego Diogo, comensal da casa e adversário natural de Raimundo.
Todos três conheciam as origens negroides de Raimundo. E o Cônego Diogo era o mais empenhado em impedir a ligação, uma vez que fora responsável pela morte do pai do jovem.
Foi assim: depois que Raimundo nasceu, seu pai, José Pedro da Silva, casou-se com Quitéria Inocência de Freitas Santiago, mulher branca. Suspeitando da atenção particular que José Pedro dedicava ao pequeno Raimundo e à escrava Domingas, Quitéria ordena que açoitem a negra e lhe queimem as partes genitais.
Desesperado, José Pedro carrega o filho e leva-o para a casa do irmão, em São Luís. De volta à fazenda, imaginando Quitéria ainda refugiada na casa da mãe, José Pedro ouve vozes em seu quarto. Invadindo-o, o fazendeiro surpreende Quitéria e o então Padre Diogo em pleno adultério.
Desonrado, o pai de Raimundo mata Quitéria, tendo Diogo como testemunha. Graças à culpa do adultério e à culpa do homicídio, forma-se um pacto de cumplicidade entre ambos. Diante de mais essa desgraça, José Pedro abandona a fazenda, retira-se para a casa do irmão e adoece.
Algum tempo depois, já restabelecido, José Pedro resolve voltar à fazenda, mas, no meio do caminho, é tocaiado e morto. Por outro lado, devagarzinho, o Padre Diogo começara a insinuar-se também na casa de Manuel Pescada.
Raimundo ignorava tudo isso.
Em São Luís, já adulto, sua preocupação básica é a de desvendar suas origens e, por isso, insiste com o tio em visitar a fazenda onde nascera. Durante o percurso a São Brás, Raimundo começa a descobrir os primeiros dados sobre suas origens e insiste com o tio para que lhe conceda a mão de Ana Rosa. Depois de várias recusas, Raimundo fica sabendo que o motivo da proibição devia-se à cor de sua pele.
De volta a São Luís, Raimundo muda-se da casa do tio, decide voltar para o Rio, confessa em carta a Ana Rosa seu amor, mas acaba não viajando.
Apesar das proibições, Ana Rosa e ele concertam um plano de fuga. No entanto, a carta principal fora interceptada por um cúmplice do Cônego Diogo, o caixeiro Dias, empregado de Manuel Pescada e forte pretendente, sempre repelido, à mão de Ana Rosa.
Na hora da fuga, os namorados são surpreendidos. Arma-se o escândalo, do qual o cônego é o grande regente. Raimundo retira-se desolado e, ao abrir a porta de casa, um tiro acerta-o pelas costas. Com uma arma que lhe emprestara o Cônego Diogo, o caixeiro Dias assassina o rival.
Ana Rosa aborta.
Entretanto, seis anos depois, vemo-la saindo de uma recepção oficial, de braço com o Sr. Dias e preocupada com os "três filhinhos que ficaram em casa, a dormir".

Aspectos Relevantes 

É apontado como a obra inaugural do Naturalismo no Brasil (1881). Podem ser identificados alguns elementos naturalistas:
A CRÍTICA SOCIAL, através da sátira impiedosa dos tipos de São Luís: o comerciante rico e grosseiro, a velha beata e raivosa, o padre relaxado e assassino, e uma série de personagens que resvalam sempre para o imoral e para o grotesco. Já dissemos que esses tipos são, muitas vezes, pessoas que realmente viveram em São Luís, conhecidas pelo autor.
ANTICLERICALISMO, projetado na figura do padre e depois cônego Diogo, devasso, hipócrita e assassino.
OPOSIÇÃO AO PRECONCEITO RACIAL, que é o fulcro de toda a trama.
O ASPECTO SEXUAL, referido expressamente em relação à natureza carnal da paixão de Ana Rosa pelo mulato Raimundo.
O TRIUNFO DO MAL, já que, no desfecho, os crimes ficam impunes e os criminosos são gratificados: a heroína acaba se casando com o assassino de Raimundo (grande amor de sua vida), e o Pe. Diogo, responsável por dois crimes, é promovido a cônego.
Contudo, há fortes resíduos românticos:
Escrito em plena efervescência da Campanha Abolicionista, Aluísio Azevedo não manteve a postura neutra, imparcial, que caracteriza os autores realistas/naturalistas.
Ao contrário, ele toma partido do mulato, do homem de cor, idealizando exageradamente Raimundo, que mais parece o herói dos romances românticos (ingênuo, bondoso, ama platonicamente Ana Rosa e ignora a sua condição de homem de cor).
Observe que Raimundo é cientificamente inverossímel (filho de pai branco e mãe negra retinta, o filho tem "grandes olhos azuis, cabelos pretos e lustrosos, tez morena e amulatada, mas fina").
A trama da narração é romântica e desenvolve o velho chavão romântico da história de amor que as tradições e o preconceito impedem de se realizar. Além disso, a história é verdadeiramente rocambolesca (= complicada, "enrolada").

TEXTO I

Observe, na descrição de Raimundo, a idealização própria dos romancistas românticos, a superioridade absoluta: moral, intelectual e mesmo física:
"Raimundo tinha vinte e seis anos e seria um tipo acabado de brasileiro, se não foram os grandes olhos azuis, que puxara do pai.
Cabelos muito pretos, lustrosos e crespos,, tez morena e amulatada, mas fina,- dentes claros que reluziam sob a negrura do bigode, estatura alta e elegante, pescoço largo, nariz direito e fronte espaçosa.
A parte mais característica de sua fisionomia era os olhos grandes, ramalhudos, cheios de sombras azuís, pestanas eriçadas e negras, pálpebras de um roxo vaporoso e úmido,- as sobrancelhas, muito desenhadas no rosto, como a nanquim, faziam sobressair a frescura da epiderme, que, no lugar da barba raspada, lembrava os tons suaves e transparentes de uma aquarela sobre papel de arroz.
Tinha os gestos bem educados, sóbrios, despidos de pretensão, falava em voz baixa, distintamente, sem armar ao efeito, vestia-se com seriedade e bom gosto; amava os artes, as ciências, a literatura e, um pouco menos, a política."

TEXTO II

Observe no texto abaixo a caracterização dos costumes da província, dos mexericos e do preconceito, manifesto na "fofoca" de que participam D. Bibina, Lindoca, D. Maria do Carmo e Amância Souselas:
"- Ele não é feio... a senhora não ache, D. Bibina ?... segredava Lindoca à outra sobrinha de D. Maria do Carmo, olhando furtivamente para o lado de Raimundo.
- Quem? O primo d’Ana Rosa?
- Primo? Eu creio que ele não é primo, dona !
- É! sustentou Bibina, quase com arrelie. É primo sim, por parte de pai !...
Por outro lado, María do Carmo segredava a Amâncla Souselas:
- Pois é o que lhe digo, D. Amáncía: muito boa preta!... negra como este vestido! Cá está quem a conheceu!...
E batia no seu peito sem seios. - Muita vez a vi no relho. Iche !
- Ora quem houvera de dizer!... resmungou a outro, fingindo ignorar da existência de Domingas, para ouvir mais. Uma coisa assim só no Maranhão! Credo!"

TEXTO III

Observe a nitidez com que o autor retrata o ambiente da cidade (descrição de São Luiz):
"Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor.
Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam, os vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de prata polida; os folhas das árvores nem se mexiam; os carroças d’água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios, e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçados, invadiam sem cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes.
Em certos pontos não se encontra vã viva alma no rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho."

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