Os sofrimentos do Jovem Werther
O Romantismo foi uma escola
literária de grande impacto no cenário cultural, um de seus precursores foi
Goethe que viveu na Alemanha, dentre suas mais famosas e memoráveis obras
estão Fausto e Os Sofrimentos de Werther, esse
último despertou a literatura mais subjetiva e fez parte da transição da
escrita centrada na racionalidade para a escrita Romântica.
Essa fase da Literatura foi
marcada por um afloramento das questões individuais, dos sentimentos e
pensamentos do homem… O subjetivismo e o lirismo, os tons melancólicos, os
romances avassaladores ou trágicos, os exageros das emoções, a natureza vista
como extensão do eu foram algumas das características principais desse momento
artístico.
A revolução Liberal, com a
ascensão da burguesia na sociedade se deu em vários campos, na política foi
iniciada pela Revolução Francesa, já na Literatura e cultura geral começou nos
países germânicos com a luta contra o convencionalismo das regras
arbitrariamente formuladas, sem fundamentos psicológicos. O Livro de Goethe, Os
Sofrimentos do Jovem Werther publicado em 1774, foi assim um marco do
Romantismo que ia contra o domínio absoluto da intelecto, em detrimento da
afetividade, e trazia o anseio da libertação da expressão do eu – uma
característica do liberalismo.
Resenha e Análise da Obra
“Werther”
O livro é escrito de maneira
epistolar, ou seja, apresenta-se através de cartas trocadas entre Werther e seu amigo Guilherme, embora só tenhamos acesso às
cartas do primeiro. Em cada uma delas, o personagem relata sua vida em
Wahlheim, na Alemanha, seus passeios em meio a Natureza, seus encontros com as
pessoas locais e por fim seu crescente amor por Carlota, uma jovem já comprometida com outro rapaz… Ela é pura
perfeição aos olhos de Werther, seu cuidado e amor maternais para com seus
irmãos, sua graça, beleza e espontaneidade arrebatam o coração desse romântico
jovem.
Nesse belíssimo monólogo
epistolar, Goethe fundou as bases do Romantismo – a mulher idealizada, o amor puro e impossível de ser consumado, a
contemplação da natureza, a figura da mulher anjo e do amante errante –
pondo a nu os sentimentos mais íntimos do ser humano. O sucesso foi tão grande
que não apenas a linguagem da literatura mudou para algo mais poético, mas
também a moda e os costumes da época foram influenciados pelo Romance de
Werther (inclusive na onda de suicídios cometidos, embora não fosse essa a
ideia de Goethe que viveu por muitos anos, e se apaixonou inúmeras vezes até se
casar aos 53 anos).
O Livro é uma espécie de
autobiografia de Goethe, em que Werther é revestido de vários pensamentos e
ações do autor, e sua amada, Carlota, tem elementos de algumas das mulheres que
Goethe amou… Mas muito do que está no romance não retrata fatos que realmente
se passaram, mas por vezes, fatos que poderiam ter ocorrido, coisas que ele
imaginou, sentiu… Tanto pelo seu delineamento e configuração geral, como pela
distribuição das circunstâncias, e até pelas minúcias menos perceptíveis, a novela de Os Sofrimentos do Jovem Werther
extraiu os elemento que a constituem, transformados e combinados pela
imaginação poderosa do autor, da realidade que o envolveu por algum tempo, e se
prolongou ampliadamente no seu coração.
Seu
estilo é altivo e variado, suas reflexões são ricas e nos revelam uma mente
brilhante: ” É intenso ao descrever a angústia do amor impossível, e a cada
instante agulhado pela presença de um ser angélico, adorável e aureolado de
todas as perfeições, que solicita e afaga pela natural ternura, e repele porque
é nobre, puro e fiel a um compromisso. É variado e polimorfo porque se acomoda
até à simplicidade da frase dos rústicos, e à ingenuidade dos ditos infantis, e
se ajusta à boca de todas as criaturas, e tanto se adapta à linguagem do hino,
como à do salmo, da palestra familiar ou da tragédia. É conciso porque não tem
uma frase que não revista alguma ideia, e não tem nenhuma ideia que não seja
expressa de modo elegante, sucinto e suficiente…” (Ensaio de Ary de Mesquita)
Frases
do Livro “Os Sofrimentos do Jovem Werther” – Outro ponto de destaque no livro são as
reflexões do jovem sobre variados temas, sua percepção de mundo, do tempo, dos
desejos e outros sentimentos:
·
1.Agora
vou desfrutar o presente, e deixar que o passado seja passado realmente.
·
2.As
dores não seriam tão grandes entre os homens se eles, com tanto ardor de
imaginação, não se empenhassem em revocar os passados dissabores ao invés de
aturar um presente suportável.
·
3.Uma
serenidade maravilhosa, semelhante às doces manhãs de primavera, que gozo tão
intensamente, tomou posse de minh’alma inteira.
·
4.Quantas
vezes tenho de acalmar meu sangue rebelado – pois nunca viste nada tão
desigual, tão inquieto como este coração.
·
5.Trato
meu coração como se trata uma criança doente; satisfazendo a todos os seus
caprichos.
·
6.Se
me perguntas como é a gente daqui, eu te direi que é como em toda parte. A
espécie humana é de monótona uniformidade. A maioria dela trabalha durante a
maior parte do tempo para poder viver, e o pouco que lhe resta é como um peso
de que ela se procura livrar. Que destino o dos homens!
·
7.A
muitos já ocorreu a ideia de que a vida seja um sonho, e essa ideia a mim me
persegue sem cessar (…) E me concentro, e encontro dentro de mim um mundo. Um
mundo feito mais de pressentimentos vagos e desejos nebulosos que de
representações claras e de forças vivas.
·
8.Bem
devias supor que tenho passado bem, e, em verdade… para encurtar palavras,
conheci alguém que me interessa o coração. Eu… bem… nem sei ao certo.
·
9.Fitando-a
fixamente nas pupilas, lhe respondi que enquanto os seus olhos me fossem
visíveis eu jamais poderia adormecer.
·
10.(…)
A partir desse, momento, o Sol, a Lua, as estrelas podem altívagos discorrer
pelo infinito, não sei se é noite ou se é dia, tenho a impressão de que o
universo em derredor de mim se vai evaporando.
·
11.(…) Ninguém conhece ao certo o alcance das
suas forças antes de experimentá-las.
·
12.Que
seria, Guilherme, para os nossos corações o mundo sem amor?! O mesmo que uma
lanterna mágica sem luz. Mal pões dentro dela a lampadazinha aparecem na tela
branca as figuras variegadas. Mesmo que não passem de efêmeros fantasmas, fazem
a nossa alegria (…) Guilherme, são ilusões o que nos faz felizes?
·
13.Sinto-me
sem imaginação, sem o sentimento da natureza, e os livros me entediam. Quando
nos faltamos a nós mesmos nos falta tudo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário